Melina Cardoso, jornalista da Folha de São Paulo e aluna do 1º Curso Brasileiro de Especialização em Audiodescrição na Universidade Federal de Juiz de Fora, fez o seu primeiro roteiro e sua primeira narração de audiodescrição em uma matéria sensível sobre a aposentadoria do cão-guia Simon.

Leiam abaixo o seu depoimento emocionado e o quanto a sua disposição e motivação poderão contribuir para abrir mais caminhos para a acessibilidade:

“A despedida do Simon e a chegada da AD

Desde o início do curso de audiodescrição na Universidade Federal de Juiz de Fora, em março deste ano, meus olhos ficaram mais atentos às pautas relacionadas às pessoas com deficiência, principalmente visual. Seguindo o Beto Pereira nas redes sociais, observei que estava abrindo o coração diariamente sobre a aposentadoria de seu cão-guia e sugeri essa reportagem à minha chefia, que aceitou a proposta. Pedi a eles que a matéria fosse ao ar acessível. Toparam.

Num primeiro momento, combinei com a Lívia Motta de revisar e gravar meu roteiro. Seria o primeiro aqui no jornal e eu estava bem insegura.

Uma grande amiga, a jornalista Camila Marques me desafiou a gravar, já que a pauta era chamativa, teria repercussão dentro e fora da Folha e seria uma oportunidade de mostrar ao jornal o retorno do investimento que faz em mim, custeando meus gastos com os estudos em Minas Gerais.

A matéria foi publicada dia 09/09. Logo cedo, vários colegas entraram em contato, emocionados com a história do Beto e encantados com o recurso. Muitos jornalistas ainda não o conheciam.

Com a repercussão descobrimos que o site da Folha não era tão acessível assim, pois várias pessoas relataram dificuldades para encontrar o player de vídeo na página. A chefia foi avisada e a tecnologia prontamente começou uma conversa para solucionar a falta de acessibilidade. O professor Laércio Sant´Anna se colocou à disposição para auxiliar.

Chegou o momento de oferecer o serviço de audiodescrição nos vídeos da editoria onde trabalhava. Mesmo insegura, vi que precisava dar o primeiro passo. A Lívia, como sempre, prometeu todo o suporte necessário e esse apoio fez e faz toda a diferença.

De tarde, o Portal Imprensa quis me entrevistar. Queriam saber como e por que colocamos legenda e AD no vídeo do Beto e se a Folha passaria a produzir conteúdos acessíveis. Falei que ainda não tínhamos uma data definida, mas que a intenção do jornal era se tornar cada vez mais acessível. A ideia agora da chefia é produzir um vídeo com acessibilidade por semana.

Que vitória!!! Não me envaideço por assinar reportagens, de ganhar parabéns, ser elogiada. Não mesmo. Apenas estou muito feliz por poder colocar em prática o conteúdo que aprendi ao longo desses meses. E saber que pessoas com deficiência visual podem assistir aos nossos vídeos. Isso é o mínimo que posso fazer aqui. É o mínimo de respeito que o jornal deve ter com seus leitores. Sempre digo que “acessibilidade não é privilégio, é direito” e estou muito contente por poder participar desse momento histórico na Folha.

Para editar esse vídeo, gravar o roteiro, encaixar a AD e publicar o conteúdo efetivamente, vários profissionais da TV Folha foram envolvidos e todos abraçaram a causa. E todos gostaram e se comprometeram a ajudar.

Essa vitória não é só minha. É da Lívia Motta, do Paulo Romeu, do Beto Pereira, Cristiana, Marta Gil, Bell, Maurício, Lara, Graciela, Laércio, é sua. Essa vitória é nossa. Valeu a pena enfrentar a insegurança e o medo e emprestar meus olhos pra tanta gente. O dom que Deus me deu foi dividido e é por isso que estou tão empolgada.” Melina Cardoso.

Assistam à matéria com audiodescrição sobre a aposentadoria do Simon.

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