A AUDIODESCRIÇÃO CHEGA A MACEIÓ: CASAMENTO DE FABRÍCIA OMENA E JEAN BERNARDO

Fotografia colorida de Jean e Fabrícia abraçados e sorridentes, com os rostos colados, no meio de uma ponte de madeira pequena, cercada de muitos coqueiros, no Hotel Jatiúca, em dia de céu azul. Jean, um jovem moreno de cabelos castanhos bem curtos e anelados, penteados de lado, veste camiseta vermelha, bermuda bege e tênis. Fabrícia, uma jovem de pele bronzeada, cabelos castanhos alourados, lisos e longos, usa vestido curto amarelo, sem mangas, estampado com flores. Ao fundo, um quiosque de paredes amarelas. Foto de Emanuel Jatobá.

O casamento é um momento marcante de construção de um novo caminho, de um ninho, uma nova família. É a celebração do amor, do desejo de estar junto para o futuro poder compartilhar. Participar desta celebração e poder contribuir para torná-la ainda mais especial é gratificante e sempre emocionante. Poder levar a audiodescrição, esse fantástico recurso que transforma imagens em palavras, para lugares onde o recurso é ainda tão desconhecido, como a ensolarada Maceió, permitindo que outras pessoas enxerguem pelos nossos olhos, é mobilizador, algo que ressignifica o meu, o nosso fazer profissional.

Usar a audiodescrição seja em um espetáculo, produto audiovisual, evento científico, acadêmico, religioso ou social, é permitir a participação plena em igualdade de condições, o acesso à informação visual, o que completa, amplia e colore o conhecimento de mundo. Costumo comparar um audiodescritor a um pintor que pinta uma tela, impregnando-a de cores, nuances, tons e texturas. Em um casamento, não é diferente; penso que a nossa responsabilidade é ainda maior, pois além de transformar as imagens em palavras, temos também que escolher muito bem estas palavras para que sejam capazes de traduzir o romantismo, o clima amoroso de tal evento.

Na sexta feira, dia 22 de maio, lá fomos nós, eu e Fátima Angelo, para a distante Maceió, fazer a audiodescrição do casamento de Fabrícia Omena e Jean Bernardo Vieira, ela jornalista, ele funcionário público. Além dos noivos, havia também alguns padrinhos e convidados com deficiência visual, em um total de 15 pessoas.

Fotografia colorida dos convidados sentados nos bancos da igreja decorada com arranjos de flores brancas, dentre eles várias pessoas com deficiência visual usando fones de ouvido.Fabrícia entrou em contato comigo em janeiro e desde então passamos a trocar mensagens, intensificando a comunicação no último mês para a composição do roteiro de audiodescrição. Chegar na cidade e conhecer, aproximar-se dos noivos, das famílias e amigos, conhecer a história, ouvir histórias, o começo do romance, as relações de amizade e carinho, saber das inúmeras providências, do planejamento dos detalhes da cerimônia e recepção para os convidados, nos aproxima e nos coloca dentro deste acontecimento tão marcante.

Rhaíssa, uma das irmãs da noiva, solícita e delicada, estava no aeroporto nos esperando para nos levar até Fabrícia e Jean com quem almoçamos e trocamos muitas informações. Em seguida, fomos para a Igreja Santa Catarina de Labouré para o ensaio com a cuidadosa cerimonialista Drica. Fátima, super expert em assuntos litúrgicos, prontamente completou as informações já levantadas sobre a igreja. De lá, fomos até o local da recepção, o Florus, casa ampla cercada de jardins, com uma pequena ponte de madeira sobre um laguinho de pastilhas azuis que conduzia ao interior do buffet, já estava quase toda decorada com arranjos de rosas, astromélias, gérberas, liriantos, cravos e orquídeas, nas cores chá e laranja. Lá, conhecemos Anelise, a decoradora que nos contou sobre as flores que seriam usadas na igreja, algumas com um suave perfume como: rosas, lírios, angélicas e gladíolos, tudo em branco.

À noite, houve um encontro animadíssimo em um bar de forró, o Bodega, onde se reuniram amigos e padrinhos que vieram de outras cidades e estados. Pudemos, então, conhecer as outras irmãs da noiva e seus pais: Yasmin e Karine, Sr. Benjamin e Dona Fátima, além dois pais do noivo, Sr. José e Dona Marta, amigos e padrinhos. Ótima oportunidade para anotar mais detalhes em meu caderninho.

Fotografia colorida de Fabrícia e seu pai, Sr. Benjamin aproximando-se da porta de entrada da igreja Santa Catarina de Labouré.  Fabrícia, uma jovem de pele bronzeada, de estatura mediana, rosto redondo com algumas pequenas sardas, nariz arrebitado, sorri radiante, conduzida por seu pai, segurando o buquê de rosas brancas e miniorquídeas amarelas.  Ela usa vestido branco longo, de renda rebordada de cristais, sem mangas, com decote canoa, transparência acima do busto, e cinto fino de pérolas. Na cabeça, um véu longo, contornado de renda e salpicado de cristais, preso por uma tiara de pérolas com delicados ramos de strass. A cerimonialista ajeita o véu e os convidados se levantam para saudar a noiva.Finalmente, chegou o grande dia!!! Com a igreja lotada de parentes e amigos, os padrinhos foram os primeiros a entrar. Em seguida, foi a vez de Dona Estela, uma senhora de 91 anos, avó paterna de Fabrícia. Ela entrou acompanhada pela neta Rhaissa, carregando uma imagem do Pai Eterno que foi colocada no altar. Depois, passaram pelo tapete verde musgo que cobria o meio da igreja, a mãe da noiva, Dona Fátima, e o pai do noivo, Sr. José; Jean Bernardo, o noivo, e sua mãe, Dona Marta. Fabrícia já estava dentro do carro, aguardando sua entrada e, de dentro do carro, pôde ver com palavras tudo o que acontecia na Igreja Santa Catarina de Labouré.

Os depoimentos dela e de Jean, que colo abaixo, destacam a importância e o brilho muito especial que a audiodescrição trouxe para mais esse casamento.

“Nosso casamento superou todas as minhas expectativas: Chuva no final, porque chuva dá sorte! Mas só no final pra não atrapalhar. Convidados a mais prá nos mostrar que somos queridos, não imaginávamos que éramos tanto! Um padre que acredita no valor do matrimônio… Parece até que Deus resolveu se fazer presente bem antes da cerimônia, prá nos abençoar com tanta perfeição. Pensei que iria ouvir as músicas e ficar imaginando tudo e que só depois poderia admirar o vestido, os cabelos e tantos detalhes que minha princesa preparou com tanto empenho, mas Deus tinha outros planos! AUDIODESCRIÇÃO. Eis que ele enviou dois anjos, a Lívia e a Fátima, que nos descreveram tudo, não apenas com detalhes, mas com emoção de quem viveu o momento, como se fossem membros da família. Valeu, Líviaaaaaa!” Depoimento de Jean Bernardo Vieira.

“Olá, me chamo Fabrícia, sou de Maceió. Sou cega de nascença e sempre gostei de audiodescrição. Mas nunca pensei que poderia ter isso em meu casamento! Li uma matéria sobre audiodescrição em casamentos e fiquei imaginando como seria bom ter isso também no meu. Então, sem pensar duas vezes, escrevi para a Lívia. Contei rapidamente a minha história: conheci o Jean em 2006, namoramos a distância por 6 anos, de 2009 a 2015 e em 2014 o Jean passou em um concurso para trabalhar em Maceió e então decidimos casar. Na mesma hora a Lívia respondeu dizendo que viria e ficamos muito emocionados! Isso foi em janeiro e o casamento estava marcado para 23 de maio. Eu só acreditei mesmo na vinda dela, quando ela comprou a passagem. Era inacreditável pensar que nosso casamento teria um recurso de acessibilidade tão maravilhoso.

A audiodescrição é um grande diferencial porque é como se pudéssemos enxergar pelos olhos do audiodescritor. E eu vi muitas coisas maravilhosas que ficarão para sempre em minha memória. Todas as descrições eram ricas em detalhes e seguiram uma preparação grande. A Lívia teve o cuidado de elaborar um roteiro com o máximo de informações. E nessa hora todo mundo ajudou: As madrinhas enviaram as fotos dos vestidos, a decoradora enviou a descrição dos arranjos, a estilista enviou a descrição em detalhes das roupas dos noivos. Tudo para ajudar a Lívia a construir o roteiro antes do grande dia. Outra coisa fantástica que a Lívia fez antes da cerimônia foi nos presentear com a audiodescrição de parte do nosso ensaio. Chorei ao ler tantos detalhes das fotos, era como se eu estivesse vivendo de novo. Na cerimônia utilizei fones auriculares bem discretos que ficaram por baixo do véu. Enquanto estava no carro aguardando a minha entrada na igreja, ouvia os detalhes da decoração, a entrada de cada padrinho, a minha avó paterna que entrou com um santo. Vi a minha mãe entrar com o meu sogro, vi o noivo lindo de smoking estilizado vi quando as cortinas fecharam e os convidados ficaram olhando “meio impacientes para a porta”. Foi tudo tão emocionante, perfeito e especial, que jamais será esquecido. Tudo que vi naquele dia é algo único. A entrada das alianças também foi incrível. Saber como eram as roupas das pessoas e a expressão facial foi algo mágico.

No salão também foi utilizado o recurso de audiodescrição. Eu pude ouvir a descrição da decoração e os convidados puderam ouvir, ao vivo, a audiodescrição da primeira dança. Lívia, tenho muito orgulho em tê-la conhecido, não tenho palavras para agradecer por tudo que você nos proporcionou. Obrigada é muito pouco, diante da maravilha que vivemos. Como tanto eu como o noivo somos cegos, poder “enxergar” tantos detalhes de um momento único em nossa vida foi algo muito belo e emocionante. Desejo que Deus continue iluminando esse trabalho lindo que você faz. Nos sentimos honrados e felizes por ter a sua presença e da Fátima em nossa data especial. Recomendo a todos a audiodescrição em casamento! É simplesmente PERFEITO!!!!” Depoimento de Fabrícia Omena.

Para nós também, Fabrícia e Jean, foi uma alegria muito grande conhecer vocês e suas famílias e participar de cerimônia e festa tão lindas!!! Inesquecível!!!

Publicado por Lívia Motta em 30/05/2015.

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